Com a lei de participação nos lucros das empresas, trabalhadores correm o risco de trocarem a saúde por dinheiro
Um novo assunto vem ganhando o centro das discussões em alguns fóruns da área de segurança no trabalho. E ele é bastante interessante, pois demonstra que devemos começar a pensar não apenas na prevenção do dia, praticada no chão de fábrica, mas em situações e decisões maiores que possam alterar, sensivelmente, algumas coisas que dizem respeito aos nossos sistemas de produção.
Será que atrelar o recebimento de PLR ( Participação nos Lucros e Resultados ) aos resultados relativos aos acidentes de trabalho é uma boa prática? Lógico que, a principio, muitos dirão que sim. Até porque parece simpático, mais uma iniciativa na direção da prevenção. Alguns dirão que a mesma idéia que se tem dos empresários (só pensam em segurança quando mexem no bolso) se aplica também aos trabalhadores. Mas penso que tudo isso merece ser analisado com muito e, até mesmo, ser pensado dentro dos conceitos mais básicos da prevenção de acidentes. Não estou dizendo que a idéia seja boa ou ruim.
Apenas creio que é preciso entender qual grau de maturidade da gestão prevencionista de determinada organização e se a questão de buscar resultados depende , de fato, quase que exclusivamente da ação humana. Se sua gestão já está neste ponto e se os passos adiante dependem apenas de gente, o fator motivacional será sim um grande passo.
Uma das preocupações é que, quando há dinheiro em jogo, os incidentes e acidentes passam a ser escondidos e isso é muito ruim para qualquer gestão e péssimo para que possamos pensar em um processo de melhoria contínua para a prevenção.
Existem ainda dois problemas muito interessantes. O primeiro é a definição de metas que são, pelo menos, irreais ou incompatíveis com a condição e ambiente de trabalho que se tem. Ou seja, o resultado será nada mais do que um acaso, sem que as praticas prevencionistas estejam agregadas ao processo. A segunda, e na mesma linha, vai em direção à crença de que sumindo os acidentes, tudo estará bem e que não precisamos mais trabalhar forte e firme para a obtenção de condições mais adequadas.
O que preocupa é que, neste mundo de “sensações”, despertar-se do sonho da mágica com um trabalhador mutilado ou morto bem diante de nossos olhos e por alguma casa simples. Que sabe se tivéssemos conhecido outros acidentes menores , teria evitado o fatal.
Prevenção de acidente não é uma gincana. É resultado de trabalho duro, sério e gradativo, que paralelamente, para sr decente e correto é desenvolvido junto às pessoas, instalações, maquinas, equipamentos e locais de trabalho. Fora isso, é ficar dando voltas no mesmo lugar.